sábado, 27 de agosto de 2011

Sandálias passo a passo


Drops

Dropas

mas nunca

derrapas:


Por que de dia

do lado de fora

só existe noite

nas janelas?


dados nos dedos sujos

pra você

dei meu dado viciado

mar em maio enlouquecido


pra você

estampei nos muros

o verso solto aos meus domínios


doei guerras

colhi almas


e dancei até o fim

sem saber do início


pra você

noturnos


pra você

invernos


tudo de vinho e sangue

na boléia dos encantos


qual o que casa

com quem junta


o que dos casos

nos dados marcados

por tua vida toda

inverno, 2005

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Sandálias na Varanda


A Varanda de Luciano na vila perdida entre as dunas

Entre perfumes, charutos, maresias e saudade.

Em janeiro desse ano, buli em um texto escondidinho há tempos. Quando a Varanda não se sabia ainda e beijava a areia de Patamares. E luas eram aceitas de dia, em alcovas desnudas e sobrancelhas ao sol.

Dava vinte para uma nos relógios e
deu no que deu:

inquietudes.
sanhaços na janela
sandálias na varanda.


a lua de vinte pra uma

pro luciano

o acaso move a casa do meu verso

cara diz casa liberta varanda vida


te faz troço e troças a asa

da lua descarada em duas

escancarada ao sol


invades o dia

contornas

abundas


em curvas desnudas

te mostras em brumas


desbunde aos tempos

aos mares aos mundos

bundos


lua luciana

reconversa soberana


inversa ao verso

ao sol de assalto


catiripapo

na casa canhota

destra aos incestos


ao meio dia inteira

ao sol do meu tudo


a cara do verso

desponta absoluto

absurdo tudo


e a casa diz casa

liberta varandas

libertas libertas...

. janeiro 11

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Um par esquecido de Sandálias

sob o olhar de saramago

olhei o modo
de andar altiva
pelo cimento

plena e senhora
dos mares em terra
das elegâncias

garça

ofegante dorso
as mandíbulas tensas
o suor na anca

com passos crivados na calmaria
ato executor de uma doida alma

jurei não dizer
uma única palavra
uma jura sequer
do que desejava

olhei meus pés
e segui aos olhos frios
dos gatos que me olhavam

não queimei cigarros
rocei a traição dos mundos

valsa de adeus e de morte
para aqueles olhos pequeninos
que me deixavam.

e eu marco pontos escuros entre as estrelas
e eu amanso o sobrevôo das cotovias

chacoalho guizos
aturo números em ponteiros
afugento os gatos

e você adentra em pautas noturnas
com o gosto de café da minha boca
com a tristeza dos olhos sem cara.





a garota do adeus
observações depois de uma conversa sem fim

assim que a tarde vir
em minúsculos saltos de nuvens daninhas
e deixar o tácito fulgor em raios desnudos

aquele espectro ganha o horizonte
espadular adunco incólume

o cigarro entre dedos trêmulos
a cadenciar as imaginárias setas
pernas no vai e vem
limites ambíguos de solidão

assim que os jardins deixarem de lado as maledicências do dia
e ganharem contornos impróprios a aceitar da noite os seus

a inconclusão de gestos poda o contorno dos pássaros
garça
arguta
mercúria

o cigarro a aceitar o bico do salto fino
a incrustar no asfalto tragos de culpas
e mãos no entra e sai

território livre para a sofreguidão

assim que a noite chegar
plena rainha de fartos mênstruos

aquela corrida desenfreada assusta os restos
de gente e passarinhos nos gradis do parque
a capitular o adeus
única

a guimba morta
o salto fino

e em contra luz ao fundo
o vulto a domar uma imperfeita lágrima.
sem adornos.
inverno, 2005

domingo, 14 de agosto de 2011

Sandálias boas de seguir

narizinho
a tempestade que chega tem a cor dos teus olhos castanhos

vi o rosto de narizinho em uma pintura setentista movida a cores
a tardinha é ideal para descobrir que amanhã é maio no teu rosto
os lábios em movimento na proporção dos polígonos e das luas
o olhar com teus silêncios e sépias tuas desconjunturas e arrepios

tua cara o conteúdo a verdade mais possuída dos jardins suspensos
uma brincadeira de tempos que não voltam para meninos solitários
era a certeza em tons pastéis de que os sorrisos são paridos do sol
mesmo onde não haja abismos a ocupar espaços tão minúsculos

por cada reentrância do amarelo a zombar de todos os esconderijos
em tantas limitações inventadas para abortar vôos e expulsar poetas

vi o rosto de narizinho envolto na breve iluminura de sítios estrelados
na incoerência dos bem te vis invadindo as janelas dos arranha céus
na inocência vil de que as noites foram criadas para inventar correrias
ou de que as cores desalinhadas do teu sexo são dadas a setembros

não que a primavera tenha início a partir de um caminhar encharcado
quero ventanias e tirar a prova dos nove nesta inconclusão das tintas
e me apoderar daquela pintura no catálogo para assanhar o teu cabelo


sábado, 13 de agosto de 2011

Mais um "velho" par de sandálias

Vestido e assado
teus olhos têm o teu silêncio
e. e. cummings
o que fazer da mesma solidão
ao falar o impensável querendo além
o que deixar para as primaveras
na retícula de velhos relâmpagos
o que molhar pela lonjura dos córregos
chutando pau de barracas e templos
o que inundar na escuridão dos corpos
e só deixar mistérios para os corredores
a quem viver?
para que amar?


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Mais um par de Sandálias:


armas no chão
entrego a dor
os murmúrios das sílabas
deponho nobrezas abelhas e heresias


olhos atordoados
mãos carregadas
adeus


o que poderias ser
se poder fosse o que querias.


e a canção
pobre canção
não fosse apenas
um amontoado de versos
apenas versos de rendição.
são luís, outono de 2002



tatografia
percorrem meu corpo
em conquistas


adentram meus rios
em miríades


possuem minhas fraquezas
em arranhos


delimitam minha alma
em fronteiras


acariciam meu sexo
em domínios


e alimentam a sedução
de quem se permite às mãos
sem algemas.

Sandálias


Caros, a partir de hoje o Beco de Pas posta textos escolhidos para a nossa próxima publicação impressa.

Sandálias tem lançamento previsto para 2012, assim que o inquieto poezo irreponsável por este espaço quetar o facho das andanças.

Aqui no Beco, alguns salpicos, deleites e tira gostos do que vou declamar um dia na Varanda do Luciano.

besos e quesos procês
e viva a uva cabeenet


ah! pá

ah! poesia

olhos a dopar

sonho e ousadia

prática

a estatelar

quem me silencia

inadequação

do palavrão

a refinarias


uma canção insone

Não durmo

Enquanto este poema invólucro

Parte no farrapo das velas

Ao estupor da lua sem nódoas

No inquieto mar que escurece:


Vens imunda vestal

Dopas e no verdugo

Aninhas a culpa içada

Em delicada forca


És o nervo rebelde que cruza a treva

És o furor indigesto de quem reza

Para vagar doendo relicários doces


És feita de adeus e suspeitas

És morta sem pai nem prece


Meio que o fim fosse calar quem vive

Meio que o verso fosse o que fosse.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Comuna de Pas

Em fins de 2002 escrevi em São Luís, no engajado Maranhão pela lua liberta de Panaquatira e teus poetas azucrinados, um manifesto sem culpas nem amarras.

versos soltos
à baila e a beijos

Vocês são os escolhidos para o deguste.


sorvam em goles tranquilos ou intensos

depois, à revelia dos ventos bons

me mandem um recado...



besos e quesos procês

e viva a uva cabernet


bjs

Pas

Comuna de pas

Lovers mines, yours, and the others:

Amigos,

Inicio este périplo (acho que sequencial) para enviar até vocês, amantes da boa poesia, dos vinhos, madrugadinhas e pós & tais, pensamentos de um ser atulemado, macambujo, ensimesmado, ciumento, do inverso ao contrário, mas sincero até o talo:


Divido com vocês, senhoras e senhores, um drops (balinha boa) jogado na tela, depois de ouvir uma canção vinda de Teresina. O pensamento é de Torquato Neto, poeta mais do que tropicalista que esteve por essas plagas até 71:

"Vivo tranqüilamente todas as horas do fim"


Aí vai o resultado da onda depois de Torquato:


dedicatórias

e para ti são bem aceitos os poemas

por negar a existência dos temporais

a procurar em desespero tuas pegadas na lama

e para ti são aqueles versos débeis

pregados na porta

por me ausentar da última tentativa

vai sem pressa...toma o caminho dos últimos pássaros

deixa apenas a constatação do adeus sem meias conversas

e vai sem tarde e sem culpa

vai sem dia vai sem tempo

não pare para ver os amigos

nem acender o cigarro

pra que ter motivo?

para que mirar a rua

e colher desencantos

queria que soubesses da amizade

a amizade é o terreno mais próprio para os nossos esconderijos

e daqueles o mais elegante para descansos

queria que soubesses da amizade e dos amigos

que eles venham ocupar os ombros

que eles determinem os epitáfios.


trevos de matisse

o dia cinza
nimbus em volta
em voltas
círculos brisas
no beijar das tormentas
meu amigo e seu gorro
estratos esporros
no roçar de açuçenas
senhora dos raios
bendita
senhora minha
dopas
cruzas
opaca
o dia cinza

lá no fim
matisse exala
matisse borra
a cor das cordilheiras.


o amor informa

o amor informa:

nunca revelará a forma

ao conteúdo


girassol

andas suspensa
e verás de cima
como se batem as asas

o ir e vir
de lá pra cá
daqui pra lá
da soma dos encantos

nem mais nem menos
meu tempo é quando.


foto

Das placas de trânsito só vai dar para ver o fundo
cada um sorrindo com destino em punho
Pela estrada, mais nada, sempre o tempo todo

Pastori, inverno 2002

Entra em beco, sai em beco...estamos de volta


E estamos de volta com a Comuna. aqui só versos de guerrilha. A partir de hoje o agosto a gostos...

Só versos à solta.

Batendo asa
mordendo fundo.