sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Pela iluminura das canções



A GUITARRA DAS SOMBRAS 

Por dois portões na inocência desmedida dos parques dela
distâncias
gargalhavam
só um relógio derretia o tempo e a réstia de lábios esbaforidos
corredores
amuavam
quem havia de esperar a iluminura das canções ante à lágrima?
os livros
disciplinados 
quem iria de julgar a guitarra quebrada na parede azul circunscrita?
a vizinha
muda
o ódio de gritar um nome perto dos crisântemos, dos semáforos...
os carros
rígidos
o vício de conter as bordas sem ensaios, os palcos decapitados
os vidros
e a vitrola
só restam os meninos dados a contornos e bússolas profanas
a guimba
enleia
o quadro
pensa
a lua
relata
e os estilhaços
despencam.


novembro, 14
© antonio pastori
tela: touch life (self portrait) - j.kamp

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Dos Boinas Livres






PALCO DE ANDANÇA

acaso, desejo
de tão arteiro, amanhece.
bendiz a inquietude e toda insônia.
sentir é palco de apetrechos
alma dada a verso quando nasce.
pedra tão doída em reticências.



junho,12
© antonio pastori
arte: i don't need anybody, agnes cecile 

sábado, 8 de outubro de 2016

A rota dos pássaros rubros (Parte IV)



DANZA RUBRA

de tarde pássaros rubros 
arrancam os últimos mênstruos
e brincam em tombadilhos
antes de caiar o porvir

À tarde convém
domar respiros
e mudar as vias de olhar
e colher as ruas para cair

só por tardes
abstraia
quando não
o vir a ser

pela tarde,
alpercatas
boas de seguir

entretardes
posta elétrica
onde voa à mercê

amanhã
é dar de troças
nunca é tarde
para ir

por estradilhas
que vem das asas
rubras asas
do entardecer. 
 
novembro,14
© antonio pastori
foto: kenton brade

Sobre lágrimas imperfeitas

A GAROTA DO ADEUS

assim que a tarde vier
em minúsculos saltos de nuvens daninhas
e deixar o tácito fulgor em raios desnudos 

aquele espectro ganha o horizonte
espadular
adunco
incólume

o cigarro entre dedos trêmulos
a cadenciar as imaginárias setas
pernas no vai e vem
limites ambíguos de solidão

assim que os jardins deixarem de lado as maledicências do dia
e ganharem contornos impróprios a aceitar da noite e os seus 

a inconclusão de gestos poda o contorno dos pássaros
garça
arguta
mercúria

o cigarro aceitando o bico do salto fino
a incrustar no asfalto tragos de culpas
mãos no entra e sai
território livre para a sofreguidão

assim que a noite chegar
plena rainha de fartos mênstruos

aquela corrida desenfreada assusta os restos
de gente e passarinhos nos gradis do parque

a capitular
o adeus
única

a guimba morta
o salto fino

e em contra luz ao fundo
o vulto a domar uma imperfeita lágrima.
sem adornos.

inverno, 2005
arte: a person on the pier, jens malmgreen 

sábado, 1 de outubro de 2016

Vila Júpiter


CAMALEFRAN


onde se faz o tempo?
as tampas 
os meses são invenção das professoras de matemática

as trancas

tombadilhos
armadilhas

o que é ir?
o que foi vai?
o que é foi?
o que foi ser?

nem vem, vô!

os anos foram feitos para esquecermos de morrer
e as folhinhas de calendários são as janelas com os números de onde vem os amigos

lá de trás vem a bola dos candeeiros
os relógios nasceram de pique esconde.
céu bem noitinha saiu da besunta de dedos

porque todo mundo sabe que lá em cima tem o pintor do céu

mundo rio
fundo cai  
estrada ri 
tempo cria asa
e depois faz trim