quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Pós

Inglês contemporâneo

The book is on the tablet...


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Além dos jardins suspensos

Canção sem ópio

Perto do fim da tarde rubra
pequeninas mãos avisam 

feito as cercas das antigas taperas 
ou convite dos labirintos suspensos

as pequeninas mãos avisam 
antes dos precisos relógios
antes das frases embaladas e frias

avisam do mundo separado 
em maçanetas
em vidraças
em gradis

avisam dos vazios
das cordilheiras
das arruaças
e dos jardins

perto do fim da tarde rubra
lembro da distância dos quintais    

apronto desertos
recito tempestades

e sigo insone 
à caça dos furacões.


salvador, 2011

domingo, 9 de outubro de 2011

Perto do dia das crianças


Os ciganinhos na estrada dos zunidos

os meninos, sim, em alvoroço na busca das abelhas
a tarde e a chuva combinam com os ditos olhos agudos e negros
e nada pode impedir mãos nervosas, cenhos oblíquos, mudezas 
mas este poema teima em ser o bardo dos desencantos
o que vai dizimar as colméias

os meninos, sim, entardecem os cataventos na jornada das abelhas
noite e frieza vinda do rio abrigam os dados olhos agudos e negros
e nada pode esconder bocas arfantes, suor na rubra face, miudezas
mas este poema teima em ser o mensageiro das adolescências
o que vai incendiar as colméias

os meninos, sim aproximam os cestos dos carvalhos na caça às abelhas
o cruzeiro e as nuvens com chumbo afugentam os doidos olhos agudos e negros
e nada pode deter destinos crus, mortes anunciadas, malvadezas
do que este poema  seja o que for entre os hinos dos contentes
de quem foi se lambuzar nas colméias

das últimas árvores
ainda dá para se ver
a chuva de tarde novamente

e as abelhas, nobres vestais
as abelhas reinam na melancolia

e os ciganinhos, cara pálida
os poetinhas se mandaram com as mãos abanando 

salvador, 2011

Na estrada das velhas mariposas


não, a arte não é ilusão
uma resposta ao ginsberg

bah! não parti, nem fiquei
e a tristeza é reinante

há muito o que penso religiosamente
torna-me cético aos santos

bulas de remédio, atas de reunismos, listas de telefone
são mais verdadeiras do que se traz das tvs ou dos púlpitos

e não transformo e não enceno e não tenho mórbidas esperanças 

o mundo  moribundo jovem moribundo a teus uivos cegos
a arte não é a ilusão desses pobres paraísos

e aqueles irmãos ciganos não são anjos caídos
e aqueles irmãos ciganos escolhem asas a suspiros
e aquelas asas são luminosas sem apocalipses

só busquem fé e esperança
palpite?
em todas as angélicas moedas falsas
em todas as cinicazinhas moedas falsas

porque estamos presos nas celas
e não aceitamos caridades urbanas

estamos presos
mas somos donos dos caminhos gritados

e em torno de ti
só brumas e sereno
só centeio, chão e trigo

e em torno de tudo
ciganos amores afetos gitanos
e um adeus também como asa

do desejo.


salvador e maragojipe, 2011



sábado, 1 de outubro de 2011

Na frente da gaiola escancarada



Um brinde ao inferno dos comuns
- pro Sergio Bonelli, in memoriam

o que se passa, patativa?
fritam céus na panela
olhem os livros telegráficos!
partes de vazios avolumadas

ao que se avista, ararinha
carro retilíneo na estrada
sem poeirão a farfalhar nas boléias
ou tardes morrendo em cadeiras devolutas

aqui não tem lua, sanhacinho
vento não faz curva, bem te vi

vão embora, vão embora
os peixes já se picaram
as árvores apodreceram

ao que resta, caboclinho
guerrinha de mundo cão
cidade das caras sem sol
imberbes troços de nada

aqui não se faz
aqui se paga.

aqui não tem blues, azulão
aqui não tem jazz, colibri

rei só tico tico
vem só quero-quero

gaiolas abertas
ruas de gente
iguais e desertas

tempo de pirilampos
tapa no descampado
a aldeia criou o vento
antes do fim.

Ouvindo Passaredo (Buarque/Hime), Salvador, 2011