segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Vê este quadro de Dalí




A rota dos pássaros rubros

onde estás sei que bailas e bailas entre espelhos e sanhas
ao fundo dos cantos, velhos caboclinhos e lumes solitários 
eu entrego a estrada aos olhos por desejar demais o último dos fumos
onde vais sei que vagas e vagas entre rios e cicatrizes ao cais da cidade inventada
porque apenas te respiro aos sinais de me considerar suspeito às tuas madrugadas varadeiras
onde queres sei que ofegas e ofegas entre santos e preces ao fundo das fugas esquecidas nos relógios
apesar disso, a tua face guarda o mesmo jardim, como andares luz e janelas há muito alquebradas
e eu escapo na incidência de nos sentirmos sós por não havermos mais
e eu procuro o céu dos contentes em cataventos nas estrelas
e eu espalho a dor do tempo morto na delicadeza dos quereres
quero como quero
aplacar a ira dos temporais
domar a incontinência das lembranças
e mandar de vez a palma da mão na frieza dos vidros embaçados
para enxergar a tua dança
porque acaso não queiras
bailas
sei que bailas
e como nódoas em corações selvagens
eu espalho a saudade liberta que se esconde entre belas palavras
aquelas que o vento da noite não arranca das faces amorosas
mas também sei
sei do tempo
o tempo que te expulsa das fantasias 
o tempo com tuas faces geladas de fé 
é dessa tarde que me despacho 
me vou em placas e faixas contínuas
e escolho a estrada e os contagiros
escolho o sol rubro e os primeiros passarinhos
pioneiros da mesma solidão
testemunhas de que o intruso poema ainda busca insano
o último fumo leve na rota das asas em chamas.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Velhas boemias




Os dados dançam  
com um brinde a velhos boêmios, amigos e baianos

dói na veia
ou só de dia?

é que assim rolam os dados
na meia curva de terra e asfalto

é madrugada
nas reentrâncias
entre ondina e são lázaro

e assim dançam os dados
nos corrimões e escorregadeiras

é a cara da vez dos silêncios
perturbação dos velhos engenhos
consumação violeira

é assim que beijam os dados
na perseguição em chuva fria

luz rebatida
canto de cinco
carta emborcada
dama na mesa

cataventos
cumeeiras

é fim 
pra começo de conversa

porque lá se vão os bêbados
no fim do breu da ladeira crua
bailando nas poças de alma cheia.

Arte : Card Players, 1893/96 -  Paul Cézanne



Vida virtual

Adotar minimalismos
casa de olhar e vidro
caça no ilhar dos vivos
a ponta dos dedos. 

terça-feira, 3 de janeiro de 2012


lume no pontal

Prima a vez
dos encantos
sobressaídos 


vida liberta
tão vívidos são
teus olhos negros


Perto do cais
segredos demais
tão escondidos



vem vinho
tem alma na lama de junho

vem vinho
tem luz de vela no velho túnel


prima a tez
dos labirintos
amanhecidos



longe já vai
a manhã da noite 
de cabelos negros



poema a mais das sementeiras
vai onda noturna madrugadeira



desse vão menestrel vagabundo...
pruma o barco réu derradeiro



pontal do papel passado 
esse sujeito desnaturado 


o giramundo
o versejeiro.



Janeirinho

essa coisa 
de ser casa 
não casa

essa agora
toda hora
não cola


não enche


não tem regra
não tem bula!


vida de poeta
é ser da vida


e ponto
e vírgula!



Telhado ou vidraça
Trio parada dura

o amor arma
a mão manja
e o olho apedreja.

Petrolina, 2011


Entrou água no jardim!

Eis o poeta
Na frente daquele verso 
Mais bonitinho

Um solo de lua na rua do sol

Eis o poeta
Com cara de bobo
O tempo todo todo
todinho

Um dedo de prosa na praça dos dados

Eis o poeta
Fazendo careta
Pra todo mundo
mundinho

A luz mais livre das livres levada dos livros

tá vendo dona no que dá...
chama o tal do anjo, chama!
chama rápido, chama rápido!
rapidinho, viu?




notícia de última hora

poesia
rapidinha
no guardanapo.

no meio do engarrafamento
no centro dos sobrevividos

o riso por detrás do vidro
é flor a nascer no asfalto
é fato.