onde
estás sei que bailas e bailas entre espelhos e sanhas
ao fundo
dos cantos, velhos caboclinhos e lumes solitários
eu
entrego a estrada aos olhos por desejar demais o último dos fumos
onde vais
sei que vagas e vagas entre rios e cicatrizes ao cais da cidade inventada
porque
apenas te respiro aos sinais de me considerar suspeito às tuas madrugadas varadeiras
onde
queres sei que ofegas e ofegas entre santos e preces ao fundo das fugas esquecidas nos
relógios
apesar
disso, a tua face guarda o mesmo jardim, como andares luz e janelas há muito alquebradas
e eu
escapo na incidência de nos sentirmos sós por não havermos mais
e eu
procuro o céu dos contentes em cataventos nas estrelas
e eu
espalho a dor do tempo morto na delicadeza dos quereres
quero
como quero
aplacar a
ira dos temporais
domar a
incontinência das lembranças
e mandar
de vez a palma da mão na frieza dos vidros embaçados
para enxergar a tua dança
porque
acaso não queiras
bailas
sei que
bailas
e como
nódoas em corações selvagens
eu
espalho a saudade liberta que se esconde entre belas palavras
aquelas
que o vento da noite não arranca das faces amorosas
mas também sei
sei do tempo
o tempo que te expulsa das fantasias
o tempo com tuas faces geladas de fé
é dessa tarde que me despacho
me vou em placas e faixas contínuas
e escolho
a estrada e os contagiros
escolho o
sol rubro e os primeiros passarinhos
pioneiros
da mesma solidão
testemunhas
de que o intruso poema ainda busca insano
o
último fumo leve na rota das asas em chamas.