para amanhã
uma viagem por entardeceres
eu queria levar teus sonhos até as dunas
e ao tornar genipabu como cenário e suspeita
as cartas de amor se revelariam mundanas com aroma de
mr.k
queria te deixar
em transe com o melhor da safra
e salmaso é trilha é milha
é rosa é veia e assalto
na certeza de que os poemas nascem
sobre os espectros dos corações de chumbo
queria vila pequena
mato e poeira caras e cores
e saber como doar entardeceres
ameixas maduras cabernet chileno café de minas
queria um sorriso de criança para montar o alvorecer
pensamentos nus com sandálias de couro cru sem nome
mochila, cabelo grande, bata velha da feira do vento
queria avisar suave da chegada de joão
e navegar dormindo na magia de jobim
corais e algas agdas achas por bailar no céu
com hinos de antonios cantados por kekeu
e passear sem rumo a mudar de rota
troçar sol por retalhos de céu e asa
em maragojipe no recôncavo da alma
a canção do radiohead e suas árvores plastificadas
queria sinceramente não me preocupar com nada
o signo é de um olhar
em arte seqüencial
uma mão umedecida
(de suor e perfume!)
um olhar endurecido
(de amor e de ciúme!)
queria um tantra um mantra
o sabor no sábado o sabor no sábado o sabor no sábado
de fumo escuro e gás liquefeito
um ombro de cem anos para descansar
queria verso descompassado
e cantar e cantar sem medo
tantas e tantas
receitas de cafuné
o mundo de uma mulher
teus vertiginosos segredos
absintho para ficar em pé
um despertador para acordar bem cedo
com bela taninha limpar a barra
com telas de gaudi filme de godard
iluminar senhora dona iluminar
aquele rosto na base do lampião
avisar suave da partida de joão
e continuar o sono bom
do velho bruxo
pascoal hermeto
hermeto pascoal
O que é casa em cada qual
coração em disparada e papear sem pressa
porque sombra de azul
amiga mana sai dessa
na madrugada não faz mal
queria recife velho
para as mentiras de um bem querer
a lua do ceará
embalada em papel de pão
o que mais tem um amigo na riqueza de um abraço
com a ponta de panaquatira
rabiscar todo o maranhão
estrada rueira doce estrada
mansa tarde se vai se vai vasta
ao cume largo e dor suspensa
dopa a noite em redemoinhios
prepara quem vem
em barro bom
em alto e bom som
queria queria queria
o segredo de um lugar
no vôo de um passarinho
e surubim com alho
na arte de falcãozinho
falar de paz com mendes
na confraria dos meninos
queria incertezas, toda a verdade,
a textura
a sedução do desamar
bolo jojô sem dialética e com insônia
pra mana kiu bebê de mina velha mana
cantai hippie dos mundos e dos beijos cantai
pra invadir os meses ímpares com placa de salvador
charuto cubano, calça de saco e conhaque fundador
dobrar os ferros da ponte na última noite de chuva
falar de desbundes e versos bons com o velho manuca
ivan, ivon e tinho os amigos no balcão
rico, fred, tina para andar na contra mão
cidade doida cidade
música vasta cidade
valentina dos cílios grandes
espadular fêmea de paris
menina julia de berardi
musa de manara
dança de andarilho
ao som das big bands
em corpos gris
bailando nos quintais
queria queria queria
namorar no pós com blues
ou nas cantinas de romeu
fazer cinema mudo com a câmera de maria
andar com jorginho pelos céus da andaluzia
doer em espanhol as inquietudes de federico
gritar pro glauber rocha como está nossa província
queria que respeitassem mais o ato da poesia
conversar com viejos chicos em castellano de quinta
todo o sábado e domingo pintar o sete
ao lado de du, rai e da rainha elisabeth
queria falar com darcy da mentira de tantos brasis
achar no mato da frente a receita de ser feliz
ver chico a dedilhar os poemas de bandeira
um brasil de verdade
do paulo freire!
do vinicius!
do teixeira!
com alan 3d sextas mis a mais e às avessas
com simone de beauvoir amar e amar sem pressa
parir o ser
borrar o nada
chutar cinzeiros com a cara de madonna
blues à chalvinski sob o olhar de mariana
queria jazz de mou na entrada do vou vivendo
stella suspensa em voz nos rasgos de outono
e dizer adeus para a saudade de alguém nascer
chegar de surpresa para a porta de uma grande paixão
falar sobre amor no céu da ilha antes da sanha do
vulcão
clara pará flores nas praças
dentro da noite nunca parar
o olhar de fernanda torres
uns beijinhos da meg ryan
na cara de ferreira gullar
queria queria apenas um dia
nesta mão que não sossega
nesta língua na ponta da beira
da salvador saliva que arranha
entre o vento que nunca foi brisa
e o rio que teima em querências de mar
pela sedução de todas as varandas pro luciano inventar
seja de tudo
venha de tudo
com muito amasso e café
piaf, billie e seus cantos
saúde geraldinho e naná...
outubro ou nada
de sandália ou pé descalço
o que tem um amigo na certeza de um abraço
calor, tesão, gargalhada e qualquer coisa com talismã
o aroma do velho concha, cigarros clandestinos
e uma sensação imortal de esperança
para amanhã.
na estrada, 2011
ESCUTANDO PIAF
ResponderExcluirSorvo esses dizeres
Das sandálias nos entardeceres
Bebericando n uma
Cumbuca de cachaça
Escutando Piaf
À sombra da mangueira
Na margem do Paraguaçu
Em quintais de sonhos
Sentindo o alisar nos cabelos
Afagos sedutores
Da brisa insinuante
Bravo! Bravo!
Irmão do “istradar”
Do balcão reparo
Que vosmicê chega
Mãos erguidas
E um sorriso de chegada
Um brinde
À vida e aos azuis
Dos nossos blues.
Ivon das Aldeias