sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Sandálias em entardeceres


para amanhã
uma viagem por entardeceres  


eu queria levar teus sonhos até as dunas
e ao tornar genipabu como cenário e suspeita
as cartas de amor se revelariam mundanas com aroma de mr.k

queria te deixar
em transe com o melhor da safra
e salmaso é trilha é milha
é rosa é veia e assalto

na certeza de que os poemas nascem
sobre os espectros dos corações de chumbo

queria vila pequena
mato e poeira caras e cores
e saber como doar entardeceres

ameixas maduras cabernet chileno café de minas
queria um sorriso de criança para montar o alvorecer

pensamentos nus com sandálias de couro cru sem nome
mochila, cabelo grande, bata velha da feira do vento

queria avisar suave da chegada de joão
e navegar dormindo na magia de jobim

corais e algas agdas achas por bailar no céu
com hinos de antonios cantados por kekeu

e passear sem rumo a mudar de rota
troçar sol por retalhos de céu e asa
em maragojipe no recôncavo da alma

a canção do radiohead e suas árvores plastificadas
queria sinceramente não me preocupar com nada

o signo é de um olhar
em arte seqüencial

uma mão umedecida
(de suor e perfume!)
um olhar endurecido
(de amor e de ciúme!)

queria um tantra um mantra
o sabor no sábado o sabor no sábado o sabor no sábado

de fumo escuro e gás liquefeito
um ombro de cem anos para descansar

queria verso descompassado
e cantar e cantar sem medo

tantas e tantas
receitas de cafuné
o mundo de uma mulher
teus vertiginosos segredos 

absintho para ficar em pé
um despertador para acordar bem cedo

com bela taninha limpar a barra
com telas de gaudi filme de godard

iluminar senhora dona iluminar

aquele rosto na base do lampião
avisar suave da partida de joão
e continuar o sono bom
do velho bruxo

pascoal hermeto 
hermeto pascoal
O que é casa em cada qual

coração em disparada e papear sem pressa
porque sombra de azul
amiga mana sai dessa
na madrugada não faz mal

queria recife velho
para as mentiras de um bem querer

a lua do ceará
embalada em papel de pão

o que mais tem um amigo na riqueza de um abraço

com a ponta de panaquatira
rabiscar todo o maranhão

estrada rueira doce estrada
mansa tarde se vai se vai vasta
ao cume largo e dor suspensa
dopa a noite em redemoinhios

prepara quem vem
em barro bom
em alto e bom som

queria queria queria

o segredo de um lugar
no vôo de um passarinho

e surubim com alho
na arte de falcãozinho

falar de paz com mendes
na confraria dos meninos

queria incertezas, toda a verdade,
a textura  a sedução do desamar

bolo jojô sem dialética e com insônia
pra mana kiu bebê de mina velha mana

cantai hippie dos mundos e dos beijos cantai

pra invadir os meses ímpares com placa de salvador
charuto cubano, calça de saco e conhaque fundador

dobrar os ferros da ponte na última noite de chuva
falar de desbundes  e versos bons com o velho manuca

ivan, ivon e tinho  os amigos no balcão
rico, fred, tina para andar na contra mão

cidade doida cidade
música vasta cidade

valentina dos cílios grandes
espadular fêmea de paris
menina julia de berardi
musa de manara 

dança de andarilho
ao som das big bands
em corpos gris 
bailando nos quintais

queria queria queria

namorar no pós com blues
ou nas cantinas de romeu

fazer cinema mudo com a câmera de maria
andar com jorginho pelos céus da andaluzia

doer em espanhol as inquietudes de federico
gritar pro glauber rocha como está nossa província

queria que respeitassem mais o ato da poesia
conversar com viejos chicos em castellano de quinta

todo o sábado e domingo pintar o sete
ao lado de du, rai  e da rainha elisabeth

queria falar com darcy da mentira de tantos brasis
achar no mato da frente a receita de ser feliz

ver chico a dedilhar os poemas de bandeira
um brasil de verdade
do paulo freire!
do vinicius!
do teixeira!

com alan 3d sextas mis a mais e às avessas
com simone de beauvoir amar e amar sem pressa

parir o ser
borrar o nada

chutar cinzeiros com a cara de madonna
blues à chalvinski  sob o olhar de mariana

queria jazz de mou na entrada do vou vivendo
stella suspensa em voz nos rasgos de outono
e dizer adeus para a saudade de alguém nascer

chegar de surpresa para a porta de uma grande paixão
falar sobre amor no céu da ilha antes da sanha do vulcão

clara pará flores nas praças
dentro da noite nunca parar

o olhar de fernanda torres
uns beijinhos da meg ryan
na cara de ferreira gullar

queria queria apenas um dia

nesta mão que não sossega
nesta língua na ponta da beira   
da salvador saliva que arranha

entre o vento que nunca foi brisa
e o rio que teima em querências de mar

pela sedução de todas as  varandas pro luciano inventar

seja de tudo
venha de tudo
com muito amasso e café

piaf, billie e seus cantos
saúde geraldinho e naná... 

outubro ou nada
de sandália ou pé descalço

o que tem um amigo na certeza de um abraço

calor, tesão, gargalhada e qualquer coisa com talismã
o aroma do velho concha, cigarros clandestinos
e uma sensação imortal de esperança

para amanhã.
na estrada, 2011







Um comentário:

  1. ESCUTANDO PIAF

    Sorvo esses dizeres
    Das sandálias nos entardeceres
    Bebericando n uma
    Cumbuca de cachaça
    Escutando Piaf
    À sombra da mangueira
    Na margem do Paraguaçu
    Em quintais de sonhos
    Sentindo o alisar nos cabelos
    Afagos sedutores
    Da brisa insinuante
    Bravo! Bravo!
    Irmão do “istradar”
    Do balcão reparo
    Que vosmicê chega
    Mãos erguidas
    E um sorriso de chegada
    Um brinde
    À vida e aos azuis
    Dos nossos blues.

    Ivon das Aldeias

    ResponderExcluir