terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Dias descem de estrelas


A CRIA DOS VAGÕES SEM JAZZ


tarde és e vês que andas e relembras ante a persianas banguelas
é dezembro ao longo do descampado de areia, chumbo e vidraça,  

eu espalho lápis na inquietude dos risos
por esconder aquarela à sanha de nimbus
por amealhar culpa no querer dos tinteiros

onde vais sei que danças e danças arteira
e boêmios no cio da cidade eriçam insônias

onde corres ofegante vi que mal anoiteces
e já nem sei mais sobre ponteiros e relógios
porque apenas te espero na soleira dos mundos

e assim
monet puxa mato
hiato beija minuto

dia desce de estrela
cria sempre nasce crua

por me fazer voltar
por te espraiar demais

poetas são párias à toa
silêncio só fecha janela

dezembro já vai vês que ainda choras e andas ante a balaustrada

tarde és para vultos à beira
tarde és no vagão sem jazz

e mãos se atracam por ilhas de folhas e rugas
dessas estradilhas nervosas das águas
escolhem adeus entre as tralhas de agora

porque se tarde és
sabes bem onde vi a manhã
e mal advinhas onde troveja.


Dezembro, 14
© antonio pastori
arte: Gare Saint Lazare Station (Claude Monet, 1877)

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