CASA DE SANTO NA TV E
Documentário dirigido por Antonio Pastori mostra, pela primeira vez,
terreiro fundado no século XVII em Maragojipe, no Recôncavo da Bahia
Neste 13 de maio, em comemoração
aos 124 anos da assinatura da Lei Áurea, a TV E Bahia exibe às 19 horas o
documentário Casa de Santo, de
Antonio Pastori. Esta é a primeira vez que o filme premiado será exibido em
televisão aberta. O documentário leva o telespectador a uma grandiosa e
empolgante viagem pelos terreiros de candomblé de Maragojipe, no Recôncavo da
Bahia. O diretor registra, pela primeira vez, o interior de terreiros que nunca
haviam permitido a presença das câmeras e descobre indícios que podem mudar a
forma como a História descreve a diáspora africana para o Brasil.
Um pouco de Casa de Santo
Poucas regiões brasileiras
possuem a característica religiosa do Recôncavo da Bahia. A terra que circunda
Baía de Todos os Santos e bate às portas do Sertão tem forte influência do
Candomblé, religião trazida ao Brasil pelos africanos escravizados na época da
colonização brasileira.
Casa de Santo, documentário dirigido por Antonio Pastori, traz como
tema chave esta influência a partir dos rituais desses terreiros de Candomblé,
preservados pelo povo negro que acredita na força de sua religião. As quatro
nações da religiosidade de matriz africana estão retratadas com fidelidade e
emoção. O filme percorre os principais terreiros das nações Jeje, Ketu e Angola
e registra uma Festa de Caboclo, onde a raiz africana se mistura a influências
indígenas e européias. Uma engenhosa tradução da diversidade étnica e cultural
desta região da Bahia.
O filme tem cenas inéditas de
rituais que nunca haviam sido mostradas de forma tão fiel, em uma
reconstituição histórica. Terreiros que não haviam aberto as portas mesmo para
os fotógrafos, deram licença para as câmeras deste documentário que mostra como
os segmentos de cada nação são diferenciados pelo dialeto utilizado nos
rituais, a liturgia e o toque dos atabaques.
É em Casa de Santo que Pastori documenta pela primeira vez, o Terreiro
do Pinho, que segue os preceitos Jeje e foi fundado em 25 de dezembro de 1658
numa área que hoje pertence ao município de Maragojipe, a 133 km de Salvador. A
equipe pôde registrar o lugar onde fica o que pode ser o terreiro mais antigo
do Brasil, de linhagem Jeje – o que muda a forma de contar a história da
diáspora africana.
“Na verdade, o Jeje é o povo Ewe
Fon. Nós nos acostumamos a relacioná-los a como eles eram chamados na época,
pela expressão Jeje, que na verdade significa
‘estrangeiro’. Era um povo altivo
e conquistador, o que explica esta espécie de apelido”, explica Pastori.
O candomblé assume um importante
papel na formação da identidade cultural, étnica e religiosa do Recôncavo, é
fortemente marcado pelo ritmo e pela música que embala cada Orixá. Casa de
Santo mostra esta essência só encontrada no Recôncavo, a sua origem derivada
dos candomblés implantados lá desde muito tempo com a chegada dos escravos, e
como isto influência na vida das pessoas de lá, transporta-nos a um ambiente
mágico através dos toques inspiradores e contagiantes, da música africana.
Musicalidade
A cultura do lugar, basicamente
negra misturada aos toques do atabaque e do bongô componentes da música
africana e presentes em todo o decorrer do documentário, nos faz observar o
quanto é essencial a relação entre música e imagem no cinema. No documentário ,
o relato da religiosidade da cidade de Maragojipe traz precisão e comunhão com esta
musicalidade.
A equipe extraiu da cultura do
povo de santo, a essência da sua religiosidade com elementos desse próprio meio
com destaque para os instrumentos utilizados nas casas de santo o Rum, o Rumpi
e o Le, atabaques sagrados e tocados por alabês.
A técnica de combinar os sons, é
o que leva o espectador a “participar” dessa cultura, entender e compreender a
sua linguagem. A dita casa de santo é onde está a mistura da natureza que se
junta com a mistura de raças, onde o povo negro escravizado busca até hoje
manter e viver fielmente a sua religião, o candomblé.
A cultura afro-brasileira está
expressa também pela capoeira. “O Canto dos Escravos” aguça a sensibilidade do
espectador diante das imagens mostradas no documentário. Ecoam as vozes
benguelas em um arranjo com apenas voz e percussão. Além disso, contribui para
o clima de proximidade evocado pelo canto, contrastando, assim, com a idéia de
diversas manifestações culturais de matriz africana que constituem a raiz da
cultura popular brasileira.
Em Casa de Santo, a trilha tem
justamente esse papel, de nos aproximar daquela realidade, de passar um pouco
da energia e da sensação de estar imersa/o em um ritual do candomblé, e
cumpre maravilhosamente bem seu papel de fazer do cinema o resultado
de um emaranhado de expressões artísticas, potencializando aquilo que talvez
seja mais significativo em sua existência, nos tocar de alguma maneira.
É no terreiro, com luz iluminando
a Mãe de Santo, que gira e dança. Que recebe e trabalha. É ali: os orixás se
manifestam, a energia pulsa ao som dos tambores, a casa é de santo. Imperdível.
FICHA TÉCNICA
Casa de Santo
Duração: 44 minutos
Fotografia: Aristides Jr. e
Antonio Pastori
Assistência de Produção: Jomar
Lima
Roteiro, Pesquisa, Edição e
Narração: Antonio Pastori
Pesquisa e Produção: Manoel
Passos Pereira
Direção: Antonio Pastori
TV E Bahia
Domingo, 13 de maio
Horário 19 horas
Contatos para entrevista
(71) 9182 5063
ou mandando perguntas para
casadoverso@gmail.com
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