A GANDULA E A LENDA
Por Antonio Pastori
Definitivamente nunca
fui com a cara do Engenhão.
Admiro o Botafogo, mais
o de Garrincha, menos o de Heleno. E tenho afeto pelo Vasco, por conta do papai
vascaíno.
Apesar disso, a tal
ojeriza pelo estádio carioca prevaleceria: não era o jogo favorito de domingo.
Até porque, no outro
lado das janelas digitais, estava lá o São Paulo tentando uma improvável
classificação diante do Santos.
Mas o futebol tem a arte
de pregar peças. E em um domingo de clássicos decisivos, de duelos imprevisíveis,
de gigantismos, testosterona à solta nos gramados brasileiros, foram a
graciosidade e esperteza de uma gandula que roubaram a cena e conquistaram esse
coração, mais o do poeta, menos o do analista.
Uma gandula em pleno
Botafogo x Vasco, no Engenhão.
Bola pela lateral,
Fernanda Maia é o nome dela. Com rapidez digna daquelas passagens de bastão em
revezamentos de atletismo, entrega a redonda para Maicossuel. Uma reposição
cadenciada ao ritmo veloz de uma contraataque, a arrancada de Márcio Azevedo, o
cruzamento, o gol do Loco.
Uma cena a produzir polêmicas
e bate bocas intermináveis. Uma cena inversa ao que mais se critica nesses
personagens anônimos. muitas vezes quando não somem com ou sem a bola, passam
uma eternidade para colocá-la de volta à ação.
Uma gandula travou o
dedo deste escriba diante do controle remoto. Levou à lembrança dos tempos de
Nelson Rodrigues, de Mário Filho...
Ou dos deuses célebres,
irônicos e farsantes que regem a magia dos templos da bola.
Tempos e templos muito
mais de Maracanã, muito menos do tal Engenhão.
Porque a esperteza e a
graciosidade da botafoguense Fernanda Maia serão lembradas para sempre em um
estádio tão carente de histórias e de identidade.
Serão invocadas ao benefício
da dúvida sob a égide da paixão.
Paixão pelo ofício ou
pela estrela solitária?
Ela que já foi candidata
e (não tem jeito) será a musa do Botafogo daqui por diante, tem todo o direito.
A dúvida que ganha patamar
de lenda ao bel prazer deles, os velhos deuses irônicos e farsantes.
Posto, que me desculpem
os feios de agora, mas a Fernanda é fundamental.
E bate um bolão.
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