sábado, 31 de março de 2012




Da gentileza no jardim dos quereres



Vem o dedilhar apenas das pequenas pétalas
honrarias do tempo em cultivar amarelos
no que poderiam antever e descolorir gentilezas
por acalentar indevidos amanheceres


passeio descompassado só dos dedos
o que ao debruçar em parapeitos ao redor
os meninos da tarde só avistariam
a figura esguia, a bengala, a boina.


mas a investigação continuava
ele e as pétalas
quantas eram no bouquet?
quinhentas, seiscentas?


calculava rápido
enquanto separava os ramos
e ordenava os seixos úmidos
em diagramas poligonais
surgidos
expostos
capturados...


o amarelo tinha a imperfeição dos domínios
brotava e explodia em cada incursão daquelas mãos ossudas e firmes
ganhava cetro, o reino, a hegemonia diante de begônias e gerânios 
o amarelo tinha a superação das culpas.


os meninos da tarde avançavam pescoços ansiosos ao limite do parapeito
não conseguiam ouvir além do farfalhar das folhas mortas em pequenos redemoinhos
não conseguiam capturar além dos esparsos ruídos
seria um prece?
um discurso?


mas o que se viu
foi do dedilhar das pequenas pétalas
surgir a nuvem de notas desconstruídas
descompassadas
a música a rondar acima dos tempos
o tempo de ouro e de madeira
de pérolas finas
de corpos gris a bailar em Bahia, em Luanda  
o tempo da figura esguia, da bengala, da boina
e a névoa tomou conta da moldura
no ambíguo dominante
de um amarelo absuluto
de adeus e de encantos.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário