sábado, 1 de outubro de 2011

Na frente da gaiola escancarada



Um brinde ao inferno dos comuns
- pro Sergio Bonelli, in memoriam

o que se passa, patativa?
fritam céus na panela
olhem os livros telegráficos!
partes de vazios avolumadas

ao que se avista, ararinha
carro retilíneo na estrada
sem poeirão a farfalhar nas boléias
ou tardes morrendo em cadeiras devolutas

aqui não tem lua, sanhacinho
vento não faz curva, bem te vi

vão embora, vão embora
os peixes já se picaram
as árvores apodreceram

ao que resta, caboclinho
guerrinha de mundo cão
cidade das caras sem sol
imberbes troços de nada

aqui não se faz
aqui se paga.

aqui não tem blues, azulão
aqui não tem jazz, colibri

rei só tico tico
vem só quero-quero

gaiolas abertas
ruas de gente
iguais e desertas

tempo de pirilampos
tapa no descampado
a aldeia criou o vento
antes do fim.

Ouvindo Passaredo (Buarque/Hime), Salvador, 2011

Um comentário:

  1. Simulando Uma Resposta do Bonelli.

    RUAS E GAIOLAS
    Surpreso no olhar
    Saltitante pardal
    Habitas nas brumas
    E na leveza dos pensamentos.

    Recuas aos movimentos
    Do vento que assopra
    Vossa têmpora
    Do lado esquerdo da vida.

    A lua chega a ti, curió
    No descanso do sol, papa capim.

    Ouças os sussurros no mato
    Cantos povoando a mente
    Revoadas
    Farfalhadas
    Do lado direito da vida.

    Mergulhas profundo
    Num vôo rasante
    Coração palpitante.

    A destra em movimento
    Rabiscas liberdade
    Numa tarde Neón.

    Gaiolas desertas
    Ruas abertas
    Sem solidão
    Sou livre, rouxinol.
    Ivon das Aldeias.

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