O QUE RESTA DO PEREZ CRUZ
na cantina do baile de névoas
vem um sotaque em lume de espelhos
uma coroa por enxame dos bardos
vem a morte das troças sem linhos violetas
perto do que é rubro
da lua ser de tardinha
das horas em quereres livres
porque são lentas as veias e alquimias
pelas aquarelas das ruas sombreadas
e se dedilhas os rios no decurso do tempo
inventas duas mil e uma das noites
antes do que queira à beira
virar anoitecer
perto do último incêndio
sem estradas de outonos
existe sim
existe alguma coisa por dizer…
pelo pousar das bicicletas
pelo que resta do Perez Cruz
por ser forjado a guerras
no abandono dos ventos
por desenhar bolas japonesas
na trilha de olhares na neblina
mas o que resta é apenas a ópera dos vencidos
e se bem me lembro, nenhuma é o que parece
ao saber que relógios são pobres gaiolas velhas
e o tempo um desencanto nas mesas em contraluz
das cantinas de névoas poentes viventes
em dormências de temporais e saturnos
porque no mundo dos poemas em relicários
se bebe vida até a úlima gota do último dia
perto do que seja espera
ou do que for para sempre
ali bem no meio da rua
em um sorriso na praça
a cortar o tempo à faca
além do que for adeus
porque roubaste do Perez Cruz
a mesma lua das horas livres
pouco ali do que foi de tardinha
e assim só vemos o rastro na rota dos pássaros rubros
de teus bailes suspensos corados de sangue e azul
a espelhar o poema entre as bicicletas na neblina.
junho, 2016
© antonio pastori
Arte: Wine Tasting - Camilla, Saturno Buttò © Tutt'Art
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