AS ESFINGES DO RIO
(A rota dos pássaros rubros II)
onde vais sei que gritas e gritas por dentro entre o cais e os costeiros da lua
ao mito das litanias, dos velhos arvoredos, dos passos da
chuva
eu vago nas beiras e aos ofegos por te amar demais no último
dos versos
onde vais sei que andas e andas ao catar estrelas para
inventar o caminho dos vagalumes
onde talhas sei que mudas e margeias entre linhos e leitos
ao fado inquieto e riscado
porque ali te recorto aos mundos de iluminuras
dopo aquarelas e sangradouros na vastidão dos sós
dopo aquarelas e sangradouros na vastidão dos sós
bem e assim eu sei
a primeira lágrima nasceu da tristeza de um rio
e tinha cor de ouro velho por vir da ponta de um pincel
bem e assim bem sabes
o rio era o imenso jardim
as lágrimas eram as flores do rio
as esfinges eram donas do oceano
as esfinges moravam nas profundezas
as esfinges roubavam as pontas de lágrima
as pétalas perdidas do jardim das corredeiras
e eu naveguei no hiato de nos deixarmos ir por não sabermos
mais
e eu gritei na solidão das canoas e dos vagalumes sem rota
e eu procurei as pétalas na imersão e na fúria das
correntezas
como açoitar a mesma ira dos temporais?
como grotar a incerteza das velhas sangas?
e mudar de vez o curso das águas brancas
na palidez das horas que morrem sem saber dos dias
para desnudar a rota dos rubros pássaros
por não se saber mais como é a cor do sol
porque acaso venhas de lá
e lutas eu sei que lutas
e como rastros em asas fugidias
eu arranquei a lágrima da tua esfinge
e libertei tons azuis para inventar a beleza
e devolvi ao rio as iluminuras
e escutei canções andinas dos encantados
pois é, eu também sei
sei da ilha e sua ninfa
a cria das ribeiras
a rainha
é dela a tarde que te desenho
é dela a última das pétalas que carrego
e a amasso sonho?
e a deságuo doce?
vou por Monte Cristo, Perasu
vou na barcaça em travessia
vou poema entre os lajeados
na esteira dos vagalumes andarilhos
com a ínfima semente que teima, desnorteia e me resta.
fevereiro, 14
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