quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Maranhão, Pernambuco e Bahia


Poema com vinho vivido em São Luís, bebido em Itamaracá e escrito em Salvador. Pequena viagem poética tendo em mente o rosto de dois belos amigos.


outubro ou nada
para joina peta e marcello chalvinsky

à frente tem o verso da capa
o verbo desnorteado
à  revelia dos rostos sem cara

dos mapas
dos automóveis
das matilhas
dos medíocres

à frente o verso cru
mouro e cândido
os teus faróis em marcha

uma menina francesa morre lânguida
e outubro se vai à míngua

e nada ou tudo
já não me seduz

a este verso nosso
dou um mês e todas as línguas
um caju da vez e saias carnudas

faz-me junco e litígio
raiz sem lei

faz-me esfera e colméia
bardo do mal

muda de roupa
mala barata

à frente tem o verbo a socos
refém do oceano e do ocaso

acaso tu falas em baudelaire
ao passo que me passa rimbaud

alimento propício a tuas balas
ao teu pescoço eriçado
ao beijo da amada

aos projéteis perfumados em maltes e mundos
jacks danados de goles algozes em lápis doze

em frente as colunas da sé
em frente a igreja de san jose
em frente ao nada e ao lugar nenhum

à panaquatira!
à rua dos poetas!
à itapuã!

amigo também és cantante
trilho urbano

trem das sete
asa no vagão do meio

novembros fazem parte da tempestade que vem

à frente tem o vértice da alma inconteste que vem
à frente tem o vidro que alicia o corte que vem

novembros querem meu corpo para levá-lo à cruz

dopas os meus escambos
catas os meus escombros

novembro é um mês filha da puta de cara e corrimão

dores suportas em assobios
dados são expostas teus veios
dores são mudas aos números

novembros são sempre novembros sem amor

e a minha paixão suspende a carne pueril à frente dos olhos semicerrados
e a minha delação sem a cor anil dispara o lume dos desejos desalinhados
e a minha danação é todo ato e toda a arte do meu ofício desgovernado

dores suportas
a tv mundana avisa tem liquidação na loja da frente

dores suportas
supermercados pastorinhos agradecem a preferência!

dores supostas ao caos
toma teus cães similares
sibilares em balas ao chão

entre a seta e o que nunca foi alvo
entre a porta e o que nunca foi adeus

em dias que rasgam a nossa cara
que dopam o sol e xeretam a lua

diferentes 
eu sei 
são os dias meus

à espera sem espreitas nossas esporas
ao mundo que me gasta e nos emplastra em caras comuns

dias iguais
injeções

dores iguais
semitons

outubro se vai
ou turbas que vão

à frente tem o verso da capa
o verbo destrambelhado
à revelia das caras dopadas no breu

que esperam alguém para brindar antes que as estrelas morram de inanição.

São Luís/Ilha de Itamaracá/Salvador 2002

Nenhum comentário:

Postar um comentário