Poema com vinho vivido em São Luís, bebido em Itamaracá e escrito em Salvador. Pequena viagem poética tendo em mente o rosto de dois belos amigos.
outubro ou nada
para joina peta e marcello chalvinsky
à frente tem o verso da capa
o verbo desnorteado
à revelia
dos rostos sem cara
dos mapas
dos automóveis
das matilhas
dos medíocres
à frente o verso cru
mouro e cândido
os teus faróis em marcha
uma menina francesa morre lânguida
e outubro se vai à míngua
e nada ou tudo
já não me seduz
a este verso nosso
dou um mês e todas as línguas
um caju da vez e saias carnudas
faz-me junco e litígio
raiz sem lei
faz-me esfera e colméia
bardo do mal
muda de roupa
mala barata
à frente tem o verbo a socos
refém do oceano e do ocaso
acaso tu falas em baudelaire
ao passo que me passa rimbaud
alimento propício a tuas balas
ao teu pescoço eriçado
ao beijo da amada
aos projéteis perfumados em maltes e mundos
jacks danados de goles algozes em lápis doze
em frente as colunas da sé
em frente a igreja de san jose
em frente ao nada e ao lugar nenhum
à panaquatira!
à rua dos poetas!
à itapuã!
amigo também és cantante
trilho urbano
trem das sete
asa no vagão do meio
novembros fazem parte da tempestade que vem
à frente tem o vértice da alma inconteste que vem
à frente tem o vidro que alicia o corte que vem
novembros querem meu corpo para levá-lo à cruz
dopas os meus escambos
catas os meus escombros
novembro é um mês filha da puta de cara e corrimão
dores suportas em assobios
dados são expostas teus veios
dores são mudas aos números
novembros são sempre novembros sem amor
e a minha paixão suspende a carne pueril à frente dos
olhos semicerrados
e a minha delação sem a cor anil dispara o lume dos
desejos desalinhados
e a minha danação é todo ato e toda a arte do meu
ofício desgovernado
dores suportas
a tv mundana avisa tem liquidação na loja da frente
dores suportas
supermercados pastorinhos agradecem a preferência!
dores supostas ao caos
toma teus cães similares
sibilares em balas ao chão
entre a seta e o que nunca foi alvo
entre a porta e o que nunca foi adeus
em dias que rasgam a nossa cara
que dopam o sol e xeretam a lua
diferentes
eu sei
são os dias meus
à espera sem espreitas nossas esporas
ao mundo que me gasta e nos emplastra em caras comuns
dias iguais
injeções
dores iguais
semitons
outubro se vai
ou turbas que vão
à frente tem o verso da capa
o verbo destrambelhado
à revelia das caras dopadas no breu
que esperam alguém para brindar antes que as estrelas
morram de inanição.
São Luís/Ilha de Itamaracá/Salvador 2002
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