A CRIA DOS VAGÕES SEM JAZZ
tarde és e vês que andas e relembras ante a persianas banguelas
é dezembro ao longo do descampado de areia, chumbo e vidraça,
eu espalho lápis na inquietude dos risos
por esconder aquarela à sanha de nimbus
por amealhar culpa no querer dos tinteiros
onde vais sei que danças e danças arteira
e boêmios no cio da cidade eriçam insônias
onde corres ofegante vi que mal anoiteces
e já nem sei mais sobre ponteiros e relógios
porque apenas te espero na soleira dos mundos
e assim
monet puxa mato
hiato beija minuto
dia desce de estrela
cria sempre nasce crua
por me fazer voltar
por te espraiar demais
poetas são párias à toa
silêncio só fecha janela
dezembro já vai vês que ainda choras e andas ante a balaustrada
tarde és para vultos à beira
tarde és no vagão sem jazz
e mãos se atracam por ilhas de folhas e rugas
dessas estradilhas nervosas das águas
escolhem adeus entre as tralhas de agora
porque se tarde és
sabes bem onde vi a manhã
e mal advinhas onde troveja.
Dezembro, 14
© antonio pastori
arte: Gare Saint Lazare Station (Claude Monet, 1877)
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