terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Por entre frestas de luz






Senhorinha

foi a última vez que alcancei teu espectro enquanto a noite vinha
eram fiapos de luz embebidos de silêncios miúdos na tarde caída
porque ainda era dia e isso se devia às garças dadas às saliências do sol

teu andar em vãos retos abria clarões entre as casas  e movia ladeiras
colhia olhares de soslaio pelas janelas por querências de amanhecer
porque já era noite e isso assemelhava escuros e claros em dedos tintos

e meninos paridos das portas já sabiam antes de você como os rios eram criados
eles ganhavam das velhas garças a réstia de iluminuras que ia dar nas estrelas
porque se ainda não era madrugada, o brilho do sereno era dado a relógios

e teu andar desenhava a cidade em contornos de seixos
não a cidade que existe, mas aquela sabedora dos grilos
namorada do rio, criatura do andar do andar do andar descalço

porque se a rua dos velhos sapos ainda discute o que é dia? o que é noite?  
as ventanias adormecem na mesma casa daqueles poemas moleques e insones        

sim, senhorinha, porque o sol já vem e isso cabe a você
prolongar o menino caminho e avisar do fim dos silêncios aos teus sanhaços.     

 Na estrada, 2011     

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Mistura de versos na tarde em queda





Aldeia in Blues


Tarde é a que muda de cor
Tarde? já passou da sua hora

Noite é mistura de tinta
Noite? já passou da sua hora

Quero madrugadas sem culpas
e manhãs todas mañanas
nascidas da insônia e da rua
gaitas são paridas de passarinho

Cata toda lua matreira
solidão nasce de rio
estrela é peça sapeca
de quebra cabeça
do céu

Tarde é a que muda de cor
Tarde? já passou da sua hora

Noite é mistura de tinta
Noites são para todas as horas

me faz blues
Aldeia dos mundos

és manta da constelação
és mãe do lume
és só e tudo
és farol.

Aldeia, dezembro de 13


domingo, 29 de dezembro de 2013






SUSPENSO
Ouvindo Telhados de Paris


bailo por ondas de mim
entre persianas violetas
e teimo sol na revoada 

porque sumo
e faço em ti
dos contornos em contraluz
às sombras da afeição

arribação

teimo
teimo sim
em sorrir no que te regas
dessas portas entreabertas
de um tempo em soslaio
às cismas da suspeição

insolidão

e deito
nas manhãs de ti
dos novembros
nos arvoredos
na revoada

no que vela e
vida me leva
ao que te encantas
na passarada.


Novembro, 13
Ilustração: Street-Art de Nick-Walker -Paris-França

sábado, 28 de dezembro de 2013






Acolexos

Escapadas para uma canção

Declamação e assobio
o que a escuridão domina?
fugitivos da madrugada?
os poetas felinos
escondem 
escamoteiam 
as fugas

porque os versos foram inventados para vôos de passarinho.
e passarinhos são dados aos raios do sol
por isso os poetas também inventaram as manhãs
Por mais nuvens que existam para tapar estrelas
Por mais pedras que surpreendam os passos em jardins
Por ser o que seremos.
Por saber?

Canto
meu bem
eu escapo dentro da noite 
com um punhado de versos
e espero a nossa chuva chegar
porque eu quero cantar
uma canção pra você

meu bem
eu escrevo dentro da noite
são aqueles mesmos versos
e expulso a dúvida mais vã
porque eu vou cantar
uma canção pra você

ninguém sabe
o que toda garça leva
no estilhaço do céu com teus voos
e a doida farsa dos teus erros
vai ficar esquecida
lá na estrada

meu bem
eu esculpo tua cara na noite
com o cinzel das estrelas
e espinho o medo da cura
porque assim vou cantar
uma canção pra você

eu espio os túneis da noite
e não dou mais os versos
e espraio a sós a certeza
de que posso cantar
uma canção pra você

você não sabe
como se criou o beijo
no balé dos acolexos e amanhos
se a manhã sem teu abraço
vai ressecar as flores
lá na estrada



Assobio

Canto
meu bem
Eu escapo dentro da noite 
Em punhado de versos
E espero a nossa chuva nos deixar
mas sempre eu vou cantar
uma canção pra você

Antonio Pastori
João Guimarães

Rancho das Aldeias, Casa do Versos

fim de 2013

terça-feira, 24 de dezembro de 2013





Blues 13/14

aprontem codinomes e respiros...
entupam mochilas de perdões
dos corações vazados em prismas 
dos ateus, arteiros e vagabundos 
o mundaiá de vento e asfalto.... 
e um velho blues a singrar.
a sede, a ávida sede é de estrada.... 



tenho apenas um punhado de versos,
o pé na tábua 
e diamantes falsos 
levados pela passarada.






Pedras em Jardins

O ímpeto dos ímpares seduzem os poetas
Por mais nuvens que existam para tapar estrelas
Por mais pedras que surpreendam os passos em jardins
  
Por ser o que seremos
do vinco a epifanias.

Dezembro de 13

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A rota dos pássaros rubros VI






Além de Banghalah

ouvindo shine on your crazy diamond


os pássaros se vão
milimétricos no céu de dezembro.
aponto os solos que ouço à revoada
descubro os diamantes
os desníveis de som e assalto
de beijos poentes com bala
entre a sanha ereta e o adeus.

sim,
porque quando descubro os diamantes
eles não brilham mais
não nos cegam mais

sim
porque quando descubro os diamantes
Eles matam a tarde e as horas
no que duram na lida dos raios
e calibram cúbicos na escuridão

sim
porque quando descubro os diamantes
eles dominam o que do dia risca
fazem troças expulsam as algazarras
e desconvidam os tolos  para a farsa

assim é
sempre é assim
como os pássaros, os meninos também se vão
rebeldes e loucos nas  rotas da gaivota
ou do albatroz     

ao som dos mundos
mantras ávidos, acordes
tais quais são
os poemas solitários

resta
este céu cinza no vácuo do fim
do que seja carvão ou diamante
chama viva do que te reparte
e cala em versos vagos versos
os velhos solos de nós.


dezembro de 2013
Pas

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013




Daqueles pássaros noturnos


dentro da noite 
os versos escapam
e ganham o infinito das dúvidas
bailam nos vôos
onde toda escuridão domina

não se pode achar os versos
fugitivos da madrugada

felinos
os poetas zíngaros
escondem 
escamoteiam 
as fugas

porque os versos foram inventados para vôos de passarinho.
e passarinhos são dados aos raios do sol

por isso os poetas também inventaram as manhãs

Dezembro, 15